Com formação datada de aproximadamente 2 mil anos atrás, a Terra Preta de Índio inquieta pesquisadores. Eles se interessem em estudar as propriedades estáveis do material em meio a mudanças climáticas. Segundo o arqueólogo Eduardo Góes Neves, para cientistas e agrônomos, entender o porquê desses solos serem estáveis é muito importante. “A ideia é tentar reproduzir esses parâmetros em áreas cultiváveis para reduzir o impacto que a agricultura itinerante tem sobre a floresta”, relata Neves.
De acordo com a linguagem cientifica, a terra preta de índio é um solo antropogênico, resultado de assentamentos indígenas. Produzido a partir da decomposição de restos animais e vegetais, possui alto teor de fertilidade e nutrientes como Potássio, Cálcio e Magnésio. Sua coloração escura se deve a grande quantidade de carbono queimado no local.
A reprodução deste solo pode promover o desenvolvimento da agricultura em áreas com escassez de alimentos. Segundo informações da pesquisa liderada pelo agrônomo José Marques Jr, professor da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), é possível obter terra preta por meio da queima de biomassa pelo método de pirólise, combustão em alta temperatura sem a presença de oxigênio.
Por conta da ausência de oxigênio, a cadeia química apresenta obstáculos para a decomposição realizada por microrganismos, explicando a elevada estabilidade do solo e a concentração de carbono orgânico.
Com a permanência de altas quantidades de carbono na terra, o impacto da atividade agrícola no lançamento de C0² para a atmosfera poderia reduzir em 25%, de acordo com Marques Júnior.
Para o físico Paulo Artaxo, atuante em questões climáticas globais, algumas propriedades da terra preta podem ser estratégicas para a humanidade. “Se você enterra o carbono no ecossistema, onde o tempo de ciclagem dele passa a ser medido em milhares de anos, ao invés de dezenas como é o caso da atmosfera, ocorre um processo de sequestro de carbono. Se realizado em larga escala, poderia representar ser uma maneira de reduzir as emissões de CO² da atmosfera”.